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UFNT participa de procedimento inédito no SUS do Tocantins para correção de cardiopatia congênita em criança

Fechamento percutâneo de Comunicação Interventricular (CIV) perimembranosa foi realizado no HGP e teve a participação do coordenador do curso de Medicina da universidade, especialista em ecocardiografia

publicado: 04/12/2025 09h47,
última modificação: 04/12/2025 09h55

Palmas (TO) — O Hospital Geral de Palmas (HGP) realizou, na sexta-feira, 28, o primeiro fechamento percutâneo da Comunicação Interventricular (CIV) perimembranosa pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Tocantins. O procedimento minimamente invasivo representa um marco histórico para a cardiologia pediátrica no estado e contou com a participação do coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT) e médico do quadro do Hospital de Doenças Tropicais (HDT/UFNT), Marcio Brito, especialista em ecocardiografia.

A Comunicação Interventricular é um defeito congênito caracterizado por uma abertura anormal entre o ventrículo esquerdo e o direito do coração. Segundo o médico responsável pelo cateterismo cardíaco pediátrico no Tocantins, Paulo Correia Calamita, trata-se de uma das anomalias cardíacas mais frequentes da infância.

“A comunicação interventricular é um defeito congênito, ou seja, o paciente nasce com ela. Sozinha, corresponde a cerca de 20% de todas as cardiopatias congênitas. Durante décadas, sua correção era sinônimo de cirurgia cardíaca aberta. Hoje, escrevemos um novo e histórico capítulo no nosso estado ao realizar o primeiro fechamento percutâneo no Tocantins, em uma paciente de 1 ano e 10 meses”, destacou.

Nesse tipo de procedimento, a correção é feita por meio de um cateter introduzido pela virilha, guiado até o coração com precisão milimétrica. Sob acompanhamento por imagem, é colocado um dispositivo (oclusor de nitinol) para selar a abertura entre os ventrículos, sem a necessidade de abrir o tórax.

“A CIV perimembranosa, por sua localização próxima a estruturas vitais da valva cardíaca, sempre foi um grande desafio técnico. Porém, por meio de um acesso mínimo, conseguimos posicionar o dispositivo com segurança. A paciente saiu da sala em ar ambiente, sem necessidade de UTI, sem uso de drogas vasoativas, sem hemoderivados e com previsão de alta em menos de 24 horas. Uma conquista para nossa equipe e para nossos pequenos pacientes”, complementou Calamita.

Marcio Brito explicou que, embora muitas cardiopatias congênitas ainda necessitem de cirurgia aberta, nos últimos anos houve um avanço importante na possibilidade de tratamento por via percutânea.

“Hoje, algumas dessas alterações que antes só eram corrigidas com cirurgia de peito aberto podem ser tratadas por meio do cateterismo cardíaco. As vantagens são uma recuperação mais rápida, menos agressão ao organismo, ausência de cicatriz e alta precoce. No entanto, nem todos os casos são elegíveis para essa técnica; é necessária uma seleção rigorosa”, pontuou.

Um dos aspectos que chamou atenção no caso foi a baixa idade e o baixo peso da criança, fatores que tornam o procedimento ainda mais complexo. Mesmo assim, a intervenção teve êxito total, demonstrando o alto nível de qualificação da equipe envolvida.

“Esse tipo de procedimento ainda é realizado em poucos centros no Brasil, especialmente pelo SUS. É algo pioneiro na região Norte e coloca a cardiologia pediátrica do Tocantins em um patamar nacional, tanto em tecnologia quanto em excelência profissional”, reforçou Brito.

Durante a intervenção, o professor da UFNT teve papel fundamental no suporte ecocardiográfico em tempo real, guiando a equipe de hemodinâmica no posicionamento preciso do dispositivo dentro do coração.

“A equipe de hemodinâmica realiza o cateterismo, e eu atuo na ecocardiografia, que é essencial para guiar e dar segurança ao procedimento. É um trabalho conjunto, de altíssima complexidade e integração”, explicou.

A participação do coordenador do curso de Medicina em um procedimento desse porte reforça o compromisso da UFNT com a formação de excelência, a pesquisa aplicada e a contribuição direta para o fortalecimento da saúde pública no Tocantins e na região Norte.

O feito representa não apenas um avanço tecnológico, mas também uma nova esperança para crianças com cardiopatias congênitas, que agora têm acesso, pelo SUS, a tratamentos modernos, seguros e menos invasivos