
Tocantinópolis (TO) – Na última quinta-feira (03), o subprojeto Interdisciplinar II – Educação em Direitos Humanos,
vinculado ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/UFNT), realizou
uma atividade formativa inspirada no modelo do cineclube, no Laboratório Interdisciplinar de
Apoio Pedagógico (Liape), no Centro de Educação, Humanidades e Saúde da Universidade Federal do Norte do Tocantins (CEHS/UFNT). Esse formato tem como princípio a compreensão da potencialidade das
imagens com som e movimento, característica da cinematográfica para sensibilização, maior
percepção e reflexão acerca dos mais variados temas.
Na ocasião, foi exibido o filme “Marte Um”, produção nacional de 2022, dirigido e
roteirizado por Grabriel Martins, que se inspirou em sua própria vivência enquanto homem
negro, de classe média baixa, vivendo na periferia de Belo Horizonte. A exibição foi seguida de
um rico debate mediado pelas bolsistas Ana Beatriz da Conceição Sousa, graduanda do curso
de Licenciatura em Pedagogia e Lara Macario dos Reis Silva, graduanda do curso de
Licenciatura em Ciências Sociais. A atividade contou com a participação de pibidianos e
convidados, que puderam dialogar sobre as diversas nuances sociais que atravessam a
narrativa do filme.

Reflexões a partir da narrativa fílmica
Logo no início da conversa, os estudantes demonstraram sensibilização diante da situação retratada no filme em que o pai projeta seus próprios sonhos no filho. Muitos reconheceram-se nesse retrato, relatando vivências pessoais semelhantes. Uma das participantes compartilhou que o pai de seu filho alimenta o sonho de vê-lo tornar-se atleta, evidenciando que tais experiências não estão distantes da realidade de diversas famílias. O grupo refletiu, então,
sobre como essa projeção de expectativas é fortemente condicionada por uma estrutura social
excludente que restringe os horizontes possíveis para muitas pessoas.

As mediadoras destacaram ainda como o filme aborda, com sensibilidade, o lugar social
reservado ao homem negro, frequentemente limitado ao esporte como uma forma de ascensão
ou escape da realidade. Essa representação foi discutida não apenas como uma crítica às
estruturas sociais, mas também como uma valorização dos sonhos, despertando empatia e
identificação nos espectadores.

Outro ponto relevante do debate foi a abordagem das questões de gênero. Em diálogo com os participantes, discutiu-se como as identidades de gênero, esperadas e aceitas pela sociedade patriarcal, imposta às mulheres desde a infância, moldam a dinâmica familiar e influenciam suas possibilidades de ação. O grupo também refletiu sobre a importância da
representatividade, evidenciada na cena em que Deivinho, protagonista do filme, vê uma
menina negra alcançar o mesmo sonho que ele nutre, prepresentando o papel de mascote dos
cientistas na NASA. Esse momento simbólico gerou nele identificação e inspiração, ressaltando
a potência de referências positivas para crianças negras.
Nesse contexto, destacou-se o papel fundamental da professora, que, ao apoiar Deivinho,
possibilitou que ele acreditasse em si mesmo e persistisse em seu sonho. Discutiu-se, então,
como os espaços escolares, inclusive seus muros, são também espaços políticos, podendo
contribuir significativamente para processos de valorização, representatividade e fortalecimento
da autoestima dos alunos, na medida em que, enquanto parte da arquitetura escolar,
possibilitam a apresentação de sujeitos que, historicamente foram silenciados, ao serem
retratados em pinturas nos muros da escola e/ou outros espaços da unidade escolar, tais como
murais. Enfatizou-se que o incentivo de educadores pode ser determinante para que crianças,
especialmente aquelas que não recebem suporte em casa, sintam-se capazes e motivadas a
trilhar seus próprios caminhos.
A partir dessa experiência, as mediadoras ressaltaram a importância do modelo cineclubista
como ferramenta pedagógica. Esse espaço de debate permite uma leitura mais aprofundada
das dimensões sociais presentes nas obras cinematográficas, revelando problemáticas muitas
vezes invisibilizadas. A atividade evidenciou que, ao lançar um olhar crítico sobre os filmes, é
possível refletir sobre as estruturas que moldam a realidade e, a partir disso, pensar caminhos
para transformações pedagógicas.
Em síntese, o cineclube mostrou-se uma estratégia potente para fomentar uma pedagogia
crítica, acolhedora, criativa, lúdica e libertadora uma pedagogia que se distancia de modelos
tradicionais e alienantes, abrindo-se ao diálogo com as vivências dos alunos e à construção
coletiva do conhecimento.

Sobre o Cineclube
O cineclube no CEHS de Tocantinópolis foi idealizado pelo antropólogo e docente da UFNT
João Batista Felix. Foi ele quem, na UFNT, abriu caminhos para a construção de um espaço coletivo de encontros voltados à exibição de filmes e à promoção de debates críticos a partir das temáticas abordadas nas obras cinematográficas.
A partir de 2024 a professora Silene Ferreira Claro, historiadora e docente da UFNT,
passou a atuar no cineclube, refletindo sua trajetória de mais de vinte anos organizando e
administrando cineclubes em espaços escolares, na Educação Básica e no Ensino Superior.
Essa experiência de mais de mais de duas décadas com cineclube transformou-se no trabalho
de pós-doutorado dela, além de várias publicações sobre a estratégia. Atualmente,
a professora compartilha essa experiência nas atividades formativas dos pibidianos
sob sua orientação.
Matéria: Ana Beatriz da Conceição Sousa, Lara Macario dos Reis Silva e Silene Ferreira Clar
Fotos e arte: Paulo Vitor Pereira de Araújo