
Araguaína TO) — Nos dias 10 a 13 de maio de 2025, a Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT) realizou mais uma etapa do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Escolar Quilombola do Centro Norte Tocantinense, como parte da programação do Festejo da comunidade. O referido curso tem a corrdenação da professora Vera Caixeeta (UFNT). O evento formativo ocorreu no Memorial Dona Juscelina, na Comunidade Quilombola Dona Juscelina, localizada no município de Muricilândia/TO, e reuniu educadores(as), lideranças quilombolas, cursistas, estudantes, pesquisadores(as), gestores(as) públicos e a comunidade em geral para momentos de vivência, reflexão, celebração e intercâmbio de saberes.
Esta etapa formativa do curso integrou-se diretamente às atividades do festejo, proporcionando uma rica interação entre os conteúdos pedagógicos e as práticas culturais e comunitárias das populações quilombolas locais. Os/as cursistas participaram ativamente das rodas de conversa, oficinas, apresentações culturais fortalecendo os princípios de uma formação situada, intercultural e territorializada.
A programação teve início na manhã do dia 10 de maio, com rodas de conversa simultâneas envolvendo mulheres e homens das comunidades quilombolas Dona Juscelina, Dona Domicília, Pé do Morro e Cocalinho. As mulheres participaram da roda com o tema “Marcha 2025, por reparação e Bem Viver na luta da mulher negra e quilombola”, em parceria com o grupo de mulheres “Julho das Pretas” e com mediação da professora e liderança negra Telma de Sousa Santos Barbosa. Já os homens debateram sobre masculinidade, com o tema “Discutindo a masculinidade: um olhar para o ser homem”, sob a mediação de Manoel Filho Borges, em parceria com Gustavo Henrique Andrade de Araújo (UFNT).
Na parte da tarde, o foco foi na valorização dos saberes tradicionais e das práticas manuais, com oficinas de artesanato que aconteceram simultaneamente: bonecas (Prof. Sérgio Lincoln Souza Figueiroa) da SEDUC-TO e crochê (artesã Lindalva Souza Figueiroa), realizadas no Memorial Dona Juscelina e nas tendas próximas.
No dia 11 de maio, a programação seguiu com a roda de conversa “Letramento étnico-cultural: o que é o Quilombo? O que é ser quilombola?”, conduzida por Ana Cláudia Matos da Silva (SEPOT), com mediação de Lenirce Pereira de Sousa. À tarde, foi realizada a oficina de chaveiros com o Prof. Sérgio Lincoln Souza Figueiroa e, em seguida, um sorteio de prêmios para as mães, em parceria com a Prefeitura Municipal de Muricilândia.
O dia 12 de maio foi marcado pelo fortalecimento dos saberes medicinais e da ancestralidade feminina, com o 2º Encontro das Mulheres Conhecedoras de Plantas Medicinais. Pela manhã, o grupo refletiu sobre o tema “Plantas medicinais: saberes e produção das mulheres raízes do Quilombo Dona Juscelina”, com mediação da Profª Olívia Macedo Miranda de Medeiros, da UFNT. À tarde, houve o lançamento da cartilha “Plantas Medicinais, Mulheres Raízes: Ancestralidades e Saberes Medicinais do Quilombo Dona Juscelina”, fruto de parceria com o Fundo Casa.
No dia 13 de maio, data simbólica da abolição da escravatura no Brasil, as atividades começaram às 4h da manhã, com a tradicional alvorada com batuques, cantos e danças pelas ruas da cidade, sob a coordenação de Francisca Gomes. Às 7h, foi servido o “Café com Farofão”, organizado por Silvânia Gomes. À tarde, a comunidade participou de um momento de debate interreligioso com as lideranças locais (15h30), seguido da apresentação do “Teatro da Abolição” (17h30), com os/as jovens Kacyenne, Jonathan Batista, Edilane e Sara. Às 18h30, teve início o tradicional cortejo com os blocos culturais pelas ruas da cidade, encerrando com a fala das autoridades e apresentações culturais das comunidades quilombolas e das escolas municipais e estaduais (19h30). O festejo finalizou com shows musicais de bandas locais e regionais às 22h30.
A participação dos cursistas no Festejo foi direcionada para o olhar sobre as manifestações culturais, o esforço empreendido no fortalecimento da identidade quilombola, de luta pelo território, a preservação da memória coletiva, da valorização da ancestralidade e, principalmente, em como transformar essas manifestações culturais em práticas pedagógicas. O 52º Festejo da Abolição, articulado com o Curso de Aperfeiçoamento em Educação Escolar Quilombola, reafirmou o compromisso das comunidades quilombolas do Centro Norte Tocantinense com a construção coletiva de uma educação antirracista, enraizada na memória, nos territórios e nas ancestralidades negras.